O Dr. Pedro Tavares, vigário in solidum da freguesia de Santiago dos
Feitos, fez renuncia da sua igreja a favor dos Lóios do convento de
Santa Cruz de Lamego, ao qual o Papa Pio IV em 1567 anexou in perptum,
sendo padroado deste convento até 1834, (Fr. Francisco de St.ª Maria_
Ceo Aberto na Terra, capítulo XIV, Pág. 415).
Esta freguesia
era primitivamente conhecida pelo nome de Santiago de Enchate, cujo nome
ainda hoje se liga a um lugar da freguesia de Vila Cova, que abrangia o
da seara, onde esteve a antiga matriz de Enchate, (Bento Antas da Cruz_
Ensaios para os anais do Município de Barcelos, Parte primeira, edição
de 1932, pág.14).
Com a mudança da igreja daquele lugar para o
sitio onde está, tomou a freguesia o nome dos Feitos, talvez por nele
haver muitos fetos, plantas a que o povo chama feitos, se não de algum
feito, façanha, que aqui se desse. Nas inquirições de D. Afonso II de
1220 vem esta freguesia com a designação =” De Santo Jacobo de Eixati”,
de Terra de Neiva. Nelas se diz que o rei não tem reguengo algum e que
“vadunt ad castellum. Et in cauto in quodam loco dant eciam regi 2
morabitinos de renda”
Que o rei não é padroeiro e que esta
igreja tem sesmarias, Bouro, 2 casais, e Palme; 4 casais. Nas
inquirições de D. Afonso III de 1258 se diz: “in Judicato de Nevia.
Item, in parrochia Sancti Jacobi de Exati frio” que o rei não é
padroeiro e que vão ao castelo.
A freguesia de Feitos esteve
anexada à de Palme durante 60 anos, adquirindo a sua independência só em
1905. O visitador desta freguesia em 1666 diz que a igreja estava em
sítio deserto, passando um ribeiro entre ela e o seu lugar principal,
tornando-se difícil a assistência religiosa, principalmente na ocasião
das grandes cheias, e que o vigário deixara de habitar a Residência por
insuficiente, e por isso ordenava que a igreja fosse construída no
povoado.
Em 1670 ainda estava no lugar da Seara, mas em 1676
já era benzido o novo templo pelo arcebispo de Braga, D. Veríssimo de
Lencastre, sendo então vigário dos Feitos o P. João de Faria. As obras,
porém, só terminaram em 1689. Da igreja velha não existem vestígios,
aparecendo da antiga residência apenas alguns restos de paredes.
A actual matriz está no lugar, dominando-o; cercada de um diminuto
adro para a qual se sobe por um pequeno escadório, com duas portas de
serventia, fechada a da frente com umas cancelas de ferro, é edifício
pequeno, baixo e de humilde aparência. Por cima da sua porta principal
abre-se uma janela rectangular que veio substituir, segundo nos
informam, um óculo ou rosácea que ali existia.Ao lado direito da fachada
ergue-se um pequeno torreão para dois sinos e ao lado esquerdo da porta
sobressai uma pedra com a data da conclusão das obras 1689.
Dentro, a capela-mor é forrada a madeira pintada, sendo a tribuna do seu
altar muito simples, sem talha. O corpo da igreja é também forrado a
madeira pintada, tendo dois altares laterais de talha muito simples. Do
lado do evangelho existe a Capela da Senhora dos Milagres, forrada a
estuque, com altar simples e moderno, e a seguir vê-se dependurado na
parede um pequeno oratório. Coro, púlpito e baptistério são muito
simples. A pia baptismal é antiga; em granito da região veio da igreja
velha, mas foi mandada alisar. Ao lado esquerdo da capela-mor ergue-se a
sacristia, pequenina, proporcional ao resto do edifício. Vimos ali uma
cruz processional muito antiga, em cobre e de valor arqueológico.
Ao fundo do adro, com entrada por este, foi construído o Cemitério
Paroquial, ainda sem gradil nem portão, no qual se começaram a fazer os
enterramentos em 1930. A meio da calçada que vai da estrada Nacional 103
até à igreja está o Cruzeiro Paroquial, simples e modesto, tendo na
base a inscrição: FOI R. F. EM 1918. Este cruzeiro foi mudado nesse ano
de um pequeno largo junto á estrada velha mais para baixo, para o sítio
onde está.
Não existe capela alguma nesta freguesia; houve a
Capela de São Mamede, na encosta do monte do mesmo nome, mas derruiu,
existindo hoje apenas restos das paredes. Há duas alminhas: as do Rio e
as da Estrada, que ambas estavam à margem da antiga estrada, sendo as
últimas mudadas para junto da estrada nº 4.
Esta freguesia,
situada em terreno acidentado, estende-se por uma fértil planície em
elevada altitude entre a Serra, ao norte e o monte de São Mamede, ao
sul, donde se avista o mar numa grande extensão.
É fertilizada pelo ribeiro de São Gonçalo que tem por afluente o regato da Cruz e ambos unidos vão desaguar ao Cávado na freguesia de Perelhal. Este ribeiro é alimentado ainda pela nascente dos Três Amieiros, que aflui à superfície da terra na agra de Tantos Mil.
Existem nesta freguesia as fontes públicas de Nabais e do Rio. É servida
pela Estrada Nacional nº 4 de Famalicão a Viana do Castelo. Passava
nesta freguesia a antiga estrada do Porto a Santiago de Compostela.
Parece que além da Portela do Ladrão essa estrada se bifurcava em dois
ramais: um por junto da Fonte dos Mortos e outro pela Igreja Paroquial
actual, juntando-se adiante outra vez.
Pela antiga
Estrada Real passou nesta freguesia, segundo a tradição, a rainha D.
Mafalda, a rainha Santa Isabel, indo em piedosa romagem a Santiago de
Galiza, el-rei D. Manuel I em 1505, a rainha D. Maria II e seu marido D.
Fernando, o príncipe real D Pedro e o infante D. Luís, indo para Viana
em Maio de 1852, e no seu regresso a Barcelos.
A
freguesia dos Feitos confronta pelo norte com a de Fragoso e a de Palme,
pelo nascente com a de Santa Leocádia do Tamel e a de Vilar do Monte,
pelo sul com a de Vila Cova, e pelo poente com esta de Vila Cova e a
dita de Palme.
Em 16 de Dezembro de 1763 foi feito o tombo da demarcação da freguesia dos Feitos.
A sua população no século XVII era de 40 vizinhos; no século XVIII
era de 25 fogos; no século XIX era de 142 habitantes e actualmente é de
185 habitantes, sendo 70 varões e 115 fêmeas, sabendo ler 31 homens e 11
mulheres, havendo 143 analfabetos.A sua população actual está
distribuída pelos seguintes lugares habitados: Feitada, Eiras, Rio, Sião
e Nabais.
As suas casas mais importantes são: a da Eira de Baixo, a do Carolo, a da Cachada e a da Poça.
Tem Escola Oficial mista com um lugar, que funciona em edifício
próprio. Na padieira da porta de entrada de entrada lê-se a seguinte
inscrição: “C. M. B. 1930-1931”.
Tem caixa de correio, mas não tem estabelecimento algum comercial.
Quem vem de Barcelos para esta freguesia, pela estrada, passa por uma
garganta entre o monte de S. Mamede e os outros que se elevam a
nascente deste a que o povo chama Portela ou Penedo do Ladrão. Existe
neste sítio, do lado esquerdo da estrada, um penedo que tem na parte
superior uma cavidade em que cabe à vontade um homem deitado: é o Penedo
do Ladrão. Dizem que era dali que o ladrão (não houve apenas um, mas
uma dinastia que durou séculos) espreitava os viandantes, e mais tarde
as diligências, à frente dos quais saia de arcabuz em punho para roubar.
Conta
a lenda, e a lenda é a história romantizada, que o bandido, não sabe
qual a dinastia, foi morto por uma mulher. Ia ela de cesto à cabeça com o
jantar para o seu homem quando, ao passar na Portela, lhe saiu o
malfeitor. Tartamudeou que não levava objectos de valor; a única coisa
que lhe podia dar era de beber e, poisando no chão o cesto, ofereceu-lhe
uma cabaça cheia de bom vinho verde, pois naquela época ainda não havia
do americano. Enquanto o bandido punha à boca a cabaça, ela, armada de
uma faca, cortou-lhe rapidamente a gorja e… foi de uma vez um ladrão.
“Tudo vai passando, até a poesia dos bandidos”, como diz José Augusto
Vieira em “O Minho Pitoresco”.
Na descida da estrada, ao
entrar na veiga que se estende a poente, existe a Fonte dos Mortos e a
seguir o sítio de Tantos Mil.
É tradição nesta freguesia que em tempos remotos se dera uma grande batalha. Bento Antas da Cruz, em artigos publicados em “O Barcelense”, localiza aqui o recontro entre o Conde de Ceia D. Henrique Manuel de Vilhena, por parte dos portugueses, e o Adianto de Galiza D. Pedro Rodrigues Sarmento. O aprisionamento de Nuno Gonçalves, o Alcaide do Castelo de Faria, que ia em socorro do Conde de Ceia, devia dar-se pois neste lugar ou perto dele, talvez antes da Portela do Ladrão. As tropas francesas em 1809 passaram nesta freguesia de regresso de Ponte de Lima ao Porto. Acamparam aqui, não se dando porém qualquer resistência por parte dos portugueses. O povo, abandonando as casas, fugiu para os montes vizinhos e os invasores limitaram-se a fazer mão baixa no que encontraram nas casas. Morreram alguns soldados doentes e estropiados, sendo enterrados em vários sítios que o povo ainda hoje aponta.
Em Setembro de 1903
efectuaram-se nesta freguesia, na de Palme e na de Fragoso, as manobras
militares a que assistiram o rei D. Carlos e o infante D: Afonso, sendo
ministro da guerra nessa ocasião Pimentel Pinto.
No alto do monte de São Mamede, antigo monte de Echate, há vestígios de muralha e na Ferração há também vestígios de habitações de povos primitivos: aparecem ali alicerces de casas, muitos tijolos ect.
Informam-nos que há poucos anos existia ali um dólmen, que foi destruído.
Nos cotos do carvalhinho, perto da Ferração, vêem-se penedos com covas redondas, feitas pela mão do homem.
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